Agricultura sustentável: um modelo para o futuro

A agricultura sustentável promove a união do desenvolvimento social e a preservação de recursos naturais. A partir de práticas de baixo impacto à biodiversidade, a agricultura sustentável é economicamente viável e promove a qualidade da alimentação, saúde de um povo e segurança hídrica.

Contudo, a alta demanda tem colocado em risco os principais insumos para a agricultura. O avanço das mudanças climáticas, causados pelo aquecimento global, tem alterado a resiliência de recursos naturais, que não conseguem se recuperar diante da escassez e demandas insustentáveis.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), atualmente a agricultura consome 70% de toda a água doce disponível. No Brasil, o índice é mais alto, chegando a 72% de consumo. A maior parte dessa água é destinada à irrigação.

Além de contribuir para a crise hídrica, a agricultura também é responsável por mais de 90% do desmatamento, de forma direta ou indireta. Um estudo da revista Science revela que, entre 2011 e 2015, o número de hectares de floresta transformados em terras agrícolas chega a 9,6 milhões de hectares.

As demandas insustentáveis, junto à baixa resiliência dos recursos naturais, pedem uma nova perspectiva para os setores produtivos. A partir de soluções de baixo impacto ao meio ambiente, a agricultura sustentável pode transformar o método de produção atual, além de conscientizar produtores e aplicar inovação por meio de métodos mais ecológicos.

Os princípios da agricultura sustentável

A agricultura sustentável pode ser definida como um sistema de técnicas inovadoras e ecológicas, desenvolvido e aplicado a partir de estudos científicos. O sistema permite o cultivo e a produção de alimentos saudáveis, em equilíbrio com a preservação do solo, do ar e da água, bem como a saúde e a segurança dos produtores e da população.

O equilíbrio ambiental, promovido pela agricultura sustentável, ocorre a partir de um cultivo de baixo impacto. A produtividade alinhada à sustentabilidade resulta em um planejamento estratégico, que reduz os custos e potencializa a qualidade da produção.

A qualidade na agricultura sustentável é identificada nos alimentos saudáveis, que ganham uma maior demanda no mercado. Dessa forma, a viabilidade econômica é uma vantagem do setor, ao reduzir seus custos e garantir e um bom retorno nas vendas.

A partir de uma economia circular, que também proporciona segurança aos produtores, a agricultura sustentável também promove a equidade social. Desde a produção até a disponibilidade, o sistema é capaz de trazer benefícios a todos os envolvidos no processo, desde produtores até os consumidores.

Os benefícios da agricultura sustentável

Ao adotar um modelo mais ecológico de produção, a agricultura sustentável contribui com uma gestão hídrica eficiente. A diminuição do uso da água na irrigação, bem como o reaproveitamento de águas da chuva, diminui o uso desenfreado de recursos naturais e contribui para a preservação.

A diminuição do uso de agrotóxicos é outra forma de preservar a água. No modelo tradicional de agricultura, o uso massivo de agrotóxicos é responsável pela poluição de nascentes e mananciais, causando impacto em toda a biodiversidade.

Por respeitar o ciclo natural do cultivo, o sistema de agricultura sustentável utiliza de técnicas que são capazes de reduzir a degradação do solo. A partir de um plantio de baixo impacto, os recursos naturais ganham tempo para se recuperar e manter a qualidade dos alimentos.

A relação mais respeitosa com a natureza contribui para o desenvolvimento da biodiversidade. Com o baixo impacto no meio ambiente, a agricultura sustentável garante o desenvolvimento da vegetação e de espécies em seu território.

Técnicas e práticas sustentáveis

Para aplicar a agricultura sustentável no plantio, existem diversas técnicas e práticas que podem contribuir para um novo método de plantações. Essas técnicas abrangem todo o desenvolvimento do território, contribuindo para a preservação de florestas e a proteção de recursos naturais.

As práticas de agricultura sustentável também contribuem para o uso mais eficiente da água. A rotação de culturas, por exemplo, auxilia na qualidade do solo e a retenção de água. O método consiste em planejar o plantio de diferentes espécies, que contribui para o enriquecimento da terra e a preservação hídrica.

A rotação de culturas torna o solo mais propício para o plantio direto, outra prática da agricultura sustentável que preserva a biodiversidade do solo. O plantio direto ocorre quando a semeadura da espécie é feita sobre a cultura anterior, aproveitando seus nutrientes e reservas de água no solo.

Outra forma de garantir a preservação de recursos naturais é adotar o sistema de agrofloresta. Esse conceito combina a agricultura sustentável com o reflorestamento, onde os dois territórios fornecem benefícios entre si. As florestas são capazes de proteger nascentes e mananciais, que garantem a qualidade do solo para o desenvolvimento fértil do plantio.

Promover o uso dinâmico e renovável de um território também faz parte da permacultura. Alinhado à agricultura sustentável, o termo combina inovações científicas com sabedorias milenares de preservação, a partir de princípios com o cuidado da terra, das pessoas e do futuro. A permacultura contribui para que a agricultura se inspire na resiliência e renovação da natureza.

Todas as técnicas e práticas da agricultura sustentável contribuem para a redução de produtos químicos, responsáveis pela degradação do solo. Somadas à tecnologia e ao estudo científico, as ações sustentáveis podem diminuir o impacto químico na biodiversidade, transformando o cenário de uso desenfreado.

Agricultura de precisão e tecnologia

O uso da tecnologia para o desenvolvimento da agricultura sustentável tem sido primordial. Segundo o estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), desde 2020 o número de produtores que utilizam alguma tecnologia no plantio chega a 84% em todo o território brasileiro.

Esse cenário contribui para a agricultura de precisão, um sistema que fornece a coleta de dados e monitoramento a partir da tecnologia. A aplicação dessas ferramentas fornece dados completos ao produtor, conscientizando o uso de recursos naturais para o plantio e promovendo práticas renováveis e de preservação.

Ferramentas como sensores, drones e sistemas de informação geográfica facilitam a aplicação de uma agricultura sustentável. Diferentemente de sistemas antigos, que são mais complexos e exigem um uso maior de recursos naturais, a tecnologia na agricultura é uma solução eficiente para a segurança de toda biodiversidade do território.

Desafios da implementação

Apesar das facilidades e benefícios promovidos pela agricultura sustentável, existem desafios que impedem a sua aplicação em larga escala. Mesmo com uma série de ferramentas tecnológicas à disposição de produtor, alguns casos apresentam resistência e limitação ao novo sistema.

Por ser um método que se difere de sistemas mais antigos, alguns produtores mais tradicionais apresentam resistência a adotar o novo modelo. Contudo, esse cenário vem se transformando à medida em que muda o perfil do produtor. Segundo a Pesquisa da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agro (ABMRA), as novas gerações de produtores  têm ganhado papel de destaque no crescimento do agronegócio.

O crescimento populacional é outro desafio para a agricultura sustentável. De acordo com a Divisão de População do Departamento da ONU, a população mundial terá um aumento de 2 bilhões até o ano de 2050. Para atender essa demanda, o setor agrícola terá que crescer em 70% na sua produção.

A partir da demanda em larga escala, o tempo de recuperação do solo torna-se mais um desafio para a implementação. Esse período de recuperação pode variar de acordo com as características do território, mas é essencial para que os recursos naturais possam manter a sua resiliência.

A solução para os desafios de implementação da agricultura sustentável está na conscientização. Com a união de setores públicos e privados, a população pode ter acesso ao desenvolvimento do sistema, pautado em pesquisas científicas e ferramentas tecnológicas, capazes de garantir uma produção mais sustentável.

Exemplos inspiradores no Brasil

O termo fazenda sustentável tem ganhado destaque no país, a partir de premiações e reconhecimentos no setor agrícola. Neste ano, o Prêmio Fazenda Sustentável, que reconhece as boas práticas de preservação e sustentabilidade no agronegócio brasileiro, realizou a sua sétima edição.

As fazendas sustentáveis premiadas são reconhecidas pela sustentabilidade social, que promove a conscientização dos colaboradores. O cultivo em larga escala de alimentos orgânicos é outro destaque, por meio de ferramentas tecnológicas e métodos de plantio cientificamente comprovados.

Para contribuir com o desenvolvimento sustentável no setor agrícola, a Política Nacional de Pagamentos por Serviços Ambientais (PNPSA) é uma lei que incentiva produtores a preservar o ecossistema a partir de remuneração. Os Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA) contribuem para que projetos de infraestrutura verde sejam implementados para transformar o uso de recursos naturais. Os recursos hídricos são um dos grandes beneficiados pela agricultura sustentável, que assegura o abastecimento e o uso consciente da água. A partir de ferramentas tecnológicas e sistemas de dados, a produção de água contribui não apenas para o setor produtivo, mas para toda a população, com um incentivo à saúde, desenvolvimento e segurança.