A relação entre a crise hídrica e a desigualdade social

Os grandes centros urbanos enfrentam um desafio em comum: o uso insustentável de recursos hídricos. Somado às mudanças climáticas e o crescimento populacional, o cenário resulta em crise hídrica. A partir dos desafios para a segurança hídrica, recentes pesquisas têm mostrado um terceiro fator para a escassez nas cidades.

De acordo com um estudo publicado na revista científica Nature Sustainability, a desigualdade social contribui para os efeitos drásticos da crise hídrica. O artigo revela o uso desigual da água em 80 metrópoles nos últimos 20 anos.

O estudo chama a atenção para duas extremidades de grupos sociais. As elites urbanas, que registram o uso de água insustentável para atividades domésticas. E, do outro lado, os moradores informais, que não encontram água para realizar suas atividades básicas, como higiene pessoal e alimentação.

A distribuição desigual nos grandes centros urbanos

Para exemplificar a distribuição desigual em grandes cidades, o estudo utilizou como modelo a Cidade do Cabo, na África do Sul. A cidade passou por uma grande crise hídrica em 2018, ano em que ocorreu o Dia Zero, quando autoridades chegaram a cogitar o corte do abastecimento não-essencial da água.

Na Cidade do Cabo, a população considerada de elite é baixa, cerca de 14% dos habitantes. Contudo, o seu uso de água é expressivo, chegando a 51% do consumo total. Enquanto os moradores informais representam 62% dos moradores, com o número de consumo que chega a 27% de água disponível.

A partir destes dados, a pesquisa identificou números semelhantes em outras 80 grandes cidades, com destaque para Barcelona, Cairo, Cidade do México, Istambul, Londres, Miami, Roma, São Paulo, Sydney e Tóquio.

Os pesquisadores apontam um constante avanço na gestão hídrica das cidades, a partir da infraestrutura verde para conter o cenário de crise. Porém, o estudo reforça que a prática não é suficiente de forma isolada. A redução do consumo insustentável de água precisa ser aplicada, para que as soluções consigam promover a segurança hídrica de forma democrática.